Antônio Fraga
Dividido em cinco fases, o Proálcool teve sua primeira etapa entre 1975 e 79 e visava estimular a produção de cana de açúcar para produzir álcool e adicioná-lo à gasolina. De 600 milhões de litros que eram produzidos em 1975, passou no final de 1979 para 3,4 bilhões de litros. Os primeiros carros a álcool começaram a surgir em 1978, com o Fiat 147. Em 1980, numa segunda fase do programa, conforme perspectivas da equipe econômica do governo federal, o barril de petróleo triplicou de preço.
Diante disso, o governo federal decide investir pesado e agilizar o mais rápido possível a ampliação da frota movida a álcool e cria órgão para dar mais credibilidade com o Conselho Nacional do Álcool – CNAL e a Comissão Executiva Nacional do Álcool – CENAL. A produção sobe muito e chegam 12,3 bilhões de litros em 1986-87, superando em 15% a meta inicial do governo de 10,7 bilhões de l/ano. Em 1980, a frota brasileira movida a álcool já era de 26,8 %.
A credibilidade do povo brasileiro era tão grande e o preço tão mais vantajoso, que em 1986 o volume de carros atingia o patamar de 76,1%. E aí se iniciava a terceira fase. Neste ano, o preço do petróleo caia absurdamente, a passou de US$40 para US$12 e a produção de carros chegava a praticamente 100%. A falta de recursos públicos para continuar incentivando o programa, as desastrosas políticas para conter o processo inflacionário e os valores que os agricultores estavam recebendo, foram desanimando o projeto. E em 1988 começava a haver uma crise entre a produção, custos e a grande demanda de veículos movidos a álcool.
As vantagens dos consumidores de carros álcool, por conta do seu maior consumo, começavam a não valer a pena, foi quando o governo tentou mais um incentivo com a menor cobrança de impostos para carros movidos a combustível nacional. No final dos anos 80 a falta de produto para atender toda a demanda desencadeou um processo de revolta do consumidor brasileiro, chegando a passar dias nas filas dos postos par conseguirem alguns litros do combustível.
O aumento de veículos a álcool não acompanhava o crescimento nas usinas, e durante anos a produção ficou estável: 11,8 bilhões de litros na safra 1985-86; 10,5 bilhões em 1986-87; 11,5 bilhões em 1987-88; 11,7 bilhões em 1988-89 e 11,9 bilhões em 1989-90. As produções brasileiras de açúcar no período foram de 7,8 milhões de toneladas na safra 1985-86; 8,2 milhões em 1986-87; 7,9 milhões em 1987-88; 8,1 milhões em 1988-89 e 7,3 milhões de toneladas em 1989-90.
A falta de credibilidade no governo e por tabela no Proálcool, afetou o programa no inicio dos anos 90 e marcou um reverso na produção de veículos movidos a álcool. E para jogar um palito de fósforo no que ainda restava de álcool, o governo federal para incentivar a indústria automobilística lança o carro popular, com motor 1,0 a gasolina e preço de US$7.500, que na época com o Real com a mesma cotação da moeda americana, o carro custava R$ 7.500,00. Era o fim.
A crise de abastecimento até que foi resolvida com a mistura MEG, que substituía, com bom desempenho, o álcool hidratado. Essa mistura (60% de etanol hidratado, 34% de metanol e 6% de gasolina) obrigaria o país a realizar importações de etanol e metanol (que no período entre 1989-95 superou a 1 bilhão de litros) para garantir o abastecimento do mercado ao longo da década de 1990. A mistura atendeu as necessidades do mercado e não foram constatados problemas sérios de contaminação e de saúde pública. Finalmente a quarta fase entraria em ação: os mercados de álcool combustível, tanto anidro quanto hidratado, foram liberados assim como o seu preço. A produção chegava a 10 milhões de toneladas ano e por conta da menor procura, o preço era baixo.
O governo abandonara de maneira criminosa o Proálcool e tudo o que foi feito e gasto por anos com o programa. A produção de carros entre 1998 e 2000 não chagava a 1%, e boa parte disso era direcionada a órgãos governamentais e taxis. Em 28 de maio de 1998, a medida provisória nº 1.662 dispôs que o Poder Executivo aumentaria para até 24% a adição de álcool à gasolina. Isso tinha muito mais uma medida econômica em relação ao petróleo e a balela disposição de diminuir a emissão de Co2. Pesquisas também tentavam desenvolver uma mistura de álcool e diesel.
Finalmente a fase cinco, com o surgimento dos motores flexíveis (flex- que podem ser abastecidos com álcool, gasolina ou qualquer proporção). Surgido em março de 2003, quando praticamente no mesmo dia a Volkswagen lançou o Gol e a Fiat o Uno, os carros flex dominam o mercado e hoje já representam quase 90% de toda a produção de carros nacionais.